Sei que um dia te vais lembrar de mim, e os números da tua agenda passarão claramente à tua frente e não terás nenhum para marcar. talvez até tentes o meu, mas até lá posso não te atender ou talvez aquele já nem seja o meu número. vais tentar chamar alguém, mas não vai haver ninguém que largue tudo para te ir dar um abraço. nessa fracção de segundo, quando os teus pés perderem o chão, vais-te lembrar do meu carinho e do meu sorriso inocente. virão súbitas memórias dos nossos momentos, abraços ou até do sossego quando adormecias no meu peito. e só haverá uma música a repetir no teu rádio: a nossa. e num novo momento vais sentir um aperto no peito, uma pausa na respiração e vais torcer bem forte para ter o nosso mundo de volta. vais estar deitado na tua cama, a ver televisão, como mais uma das muitas noites que aí passas, vais ouvir a chuva a cair e vais sentir um imenso vazio por não teres um grande amor para compartilhar esse momento. não terás ninguém para brincar contigo, admirar o pôr-do-sol, ou até mesmo partilhar as tuas histórias com um grande entusiasmo, como o fazias. o nome disso é Saudade, aquilo que eu tinha tanto e te falava sempre. quando finalmente bateres na minha porta, ela estará trancada ou se aberta, mostrará uma casa vazia. os teus olhos vão ensinar-te o que são lágrimas, aquelas que eu te disse que ardiam tanto. e vais lembrar-te das festas que eu fazia nas tuas costas para adormeceres, da minha inocência que ria de tudo o que dizias, do meu jeito de te tentar fazer feliz. o nome do enjoo que vais sentir é arrependimento e a falta de fome será a tristeza, a mesma que eu senti por tanto tempo. um dia quando te deitares e olhares para o tecto do teu quarto escuro, vais-te lembrar que as estrelas poderiam lá estar, para iluminar todas as tuas noites frias, mas tudo o que vais ver é a escuridão. e quando os dias passarem e eu não te ligar, quando nada de bom te acontecer e ninguém te olhar como eu te olhava, vais encontrar a solidão. E vais ver que diante de tudo isso, alguns dos meus defeitos poderiam ter sido perdoáveis.
em http://rascunhosdeumsonho.blogspot.it/2011/07/carta-que-eu-nunca-te-escrevi.html
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